Amália morria-me. Diante dos meus olhos - de costas voltadas para o meu país, a abraçar um mundo de línguas novas. Amália morria num painel de boas vindas, em letras vermelhas e inacreditavelmente insensíveis à minha estranha dor. Não era só a sua morte que, diante dos meus olhos escrita, me abalava, era esse sentimento de distância, de sentir que no meu país ela não teria aquela morte de letras vermelhas e inacreditavelmente insensíveis. No meu país ela morreria na TV, nos olhos cúmplices, nas conversas de pastelaria. No meu país Amália não morreria num retângulo emoldurado de árvores citadinas, pombos relutantes, semáforos e chuva persistente. Amália morreria em todo o lado.
O elétrico parou na Estação de Cadorna, olhei de novo os chinelos de dedo, ainda chovia. Faltavam dois minutos para o comboio partir com destino ao Aeroporto. Corri como pude. Senti que a Amália me pesava.
(continua)
Estou a gostar muito de Viagens.
ResponderEliminarVou ficar a aguardar a continuação...
Obrigada por (me) leres.
EliminarGrata por (me) comentares.