quinta-feira, 28 de março de 2013

Dia #14 - Volare nella tua vita

Cheguei, depois de umas quantas desencontradas voltas, finalmente, ao referido balcão onde me haveriam de dar o inesperado reembolso da viagem. Estavam nove pessoas na fila, e pensei se a todas elas teria avariado o elevador naquele domingo de manhã. A fila não se demorava muito, e em poucos minutos, mas um pouco mais que nove, chegou a minha vez. Un attimino per favore. A mulher levantou-se da cadeira, exibindo, uma altura invulgar e uma atitude de grade indiferença para o facto de eu não ter comido, naquela manhã, mais do que uma bolacha e meia. Desapareceu atrás de uma porta camuflada por um grande poster que gritava: Alitalia Volare, nella tua vita.

Pousei a mochila no chão, presa entre as pernas e o balcão, e sem cerimónias pousei a cabeça no mesmo. O tempo, era, naquele preciso instante, de um peso estonteante. A mulher voltou, levanto os olhos e com os mesmos chamei-lhe cabra, tinha ido retocar o baton, e mesmo admitindo a possibilidade de o ter feito entre outras coisas, a atitude desconcertava-me.



Sentou-se em silêncio, levantou então a cabeça, já com um sorriso pintado e perguntando. Buon Giorno. Estendi-lhe o bilhete e expliquei, caso lhe pudesse interessar, que afinal só ia chegar a casa pelas dezanove. Colocou o que deveriam ser os meus dados num dos dois computadores que estavam atrás do balcão. Não era de muitas palavras, mas ia sorrindo, enquanto abria uma gaveta e começou a contar algumas libras. Perguntou-me se trezentas mil estaria bem. Ora deixe-me pensar, eu não tenho dinheiro há um par de dias, tenho na mochila, e no bolso, umas seis bolachas, o restaurante - pelo qual eu tinha passado nas voltas à procura do balcão - só abria pelas onze e trinta. E pensei tudo isso e disse, sim, está bem. Que apesar de tudo dezanove horas ainda seriam do dia de
hoje.





Hoje, pareceu-me então um conceito muito desajustado e até um pouco infeliz. Mastiguei-o:

ho-je.


Ela contava as notas para que eu visse. Senti a barriga a sorrir e o tempo, pareceu-me, afinal, algo que se pudesse cavalgar. Sentei-me então uma hora e trinta e cinco minutos, ao balcão de um dos bares do aeroporto, tomei três capuchinos e dois cornetti. Guardei o troco.

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